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E o aniversário? Bem, foi um aniversário, mas não foi qualquer aniversário, foi o meu aniversário e isso não deve ser levado como sinônimo de uma coisa incrível, até porque, se pudesse assim ser considerado, não seria meu.

Tudo começou feliz e contente em uma festinha legal e produtiva no domingo. Por mais que não fosse uma festinha personalizada para mim, ou ainda que fosse para comemorar algo referente a mim, foi legal e o ego subiu, mesmo inexistente. Chego em casa e pessoas fofas me dão os parabéns pelo AIM e pelo ICQ. Desta vez no dia certo, ao menos. E eu tive uma conversa. É, eu tive. Mas não quero falar sobre isso e não vou pedir clareza porque eu não quero ser hipócrita. Não agora.

Dormi, acordei e acho que a ficha caiu. Não gostei disso. Onze horas e eu fiquei trancado no meu quarto até as três horas da tarde porque, enfim. Eis que resolvo abrir as janelas e arrumar o meu quarto para o cheiro de mofo sair. Estou mofado. E eis que pessoas aparecem para me dar parabéns. Duas. Não é uma coisa legal ver as pessoas quererem se aproximar de ti e ficarem receosas quanto a sua reação. Isso não é bom de se ver e muito menos de se sentir, eu diria. É como se eu fosse um estranho, as vezes. E estranhos também ganham presentes. Presentes idem. Ganhei um relógio que ela me entregou dizendo que era presente dele. Claro que ele não me entregou nada, quem estava entregando era ela. E claro que não foi ele quem comprou ou escolheu o presente, também foi ela. E eu me pergunto o porquê de o presente ser dele se foi ela que tinha feito tudo. Ou quase. Será que ele deu o dinheiro para ela comprar? Difícil. E ela me deu o presente dela - outro? - e agora eu vou poder comprar o meu próprio presente porque as pessoas nunca sabem o que me dar, certo? Mas eu não vou comentar. Não eu. Eu não posso.

Um relógio, uma coisa grande que mais parece um comunicador dos Power Rangers. Até tentei falar com o Zordon, mas eu não vou falar nada porque senão eu estarei sendo grosseiro ou então porque tem milhares de pessoas no mundo que adorariam ganhar um relógio como eu e coisas do tipo. Por que relógios? Acho que eles não sabem que eu não gosto de relógios. Também acho que eles não reparam em mim ou procuram saber do que eu gosto. E também não sabem que eu não uso relógio de pulso porque o meu pulso é fino e não fica muito legal, sabe? E acho que eles também não sabem que eu não gosto de coisas grandes e não é a primeira vez que me presenteiam com uma coisa dessas.

Quando eu compro um presente eu presenteio pessoas, não a mim mesmo. Compro ou faço coisas que, por mais que a pessoa odeie, transmitam o que eu estou querendo passar, lembrar ou ainda representar. Não precisa ser algo caro, não precisa nem ser "algo", na verdade. Mas eu não posso querer que todas as pessoas do mundo pensem como eu, afinal, são pessoas, logo eu ganho coisas que outras pessoas gostariam de ganhar, que outras pessoas acham que é legal, que outras pessoas decidiram que eu pudesse gostar. Não vou falar. Não vou comentar. E, só para rimar, no meu pulso esse relógio não vai ficar. É, eu gosto de reclamar.

O outro presente foi bom, mas não sei se viajo ou compro roupas. As duas coisas são legais, mas creio que roupas não vão me deixar triste depois de um tempo. Eu também poderia comprar uma webcam e encher isso aqui de fotos. Encher de fotos dos presentinhos que eu ganhei de pessoas que lembraram de mim e também das pessoas que lembraram de mim sem presentes, mas eu ainda não sei como eu vou fotografar coisas desse tipo. Eu poderia fotografar uma caixinha azul e amarela que apareceu por aqui. Dentro dela milhares de elásticos coloridos. Elásticos para cabelo, aqueles de prender dinheiro... elásticos. E também tinha uma embalagem do pirulito das PPG, com a Docinho, claro. E um bloco de Post It´s. E um patinho-chaveiro de pelúcia. Viram? Mais um bichinho de pelúcia que aparece aqui. Culpa da Carol. Todo amarelinho e o nome dele é Tobias. Apropósito, o Nelson quase se chamou Tobias, mas essa é uma outra história. E, por mais que eu não seja fã dessa palavra, também ganhei uma cueca. Aquelas tipo shortinho, de elástico, apertadinhas que te deixam com um ar de modelo de catálogo da Hermes. É, e eu adorei tudo isso. Eu sou um canceriano idiota e bobo, sabe? Mas isso não me deixa completamente feliz. Fico triste por algumas coisas e també fico triste porque eu fico inventando motivos para deixar de gostar desse tipo de pessoas. Yo!

Fora isso eu passei a tarde deitado no chão do banheiro. E também recebi telefonemas. Poucos. E visitas. Mínimas. E eu tentei dormir. É, dormir. Porque quando eu estou chateado, brigo com alguém ou coisinhas do tipo eu fecho os olhos e durmo em qualquer canto porque assim o tempo passa e eu não vejo.

Bons sonhos.

"And Then You Kissed Me" - The Cardigans
Kinho Dickinson