Já comentei que não gosto de gente que de quatro em quatro frases uma tem que ser referente a uma passagem da Bíblia a título recriminatório? Não gosto. E gosto menos ainda de gente que discute Bíblia dentro de ônibus, ainda mais se a discussão se localiza a menos de um metro dos meus ouvidos, bem no banco traseiro. Além do lugar não ser apropriado para para ser palco dessas análises descabidas, análises descabidas fedem.

Tem gente que se acha o dono da verdade só por que passa dias a finco lendo e decorando todos os versículos possíveis para poder sair por aí utilizando-se da "Palavra do Senhor" de boca cheia e assim poder ter uma desculpa - ou títulos - para tudo, como se esta fosse uma Constituição ou Código dos Deveres Civis. É engraçado como os portadores desses livros tem o poder de transformá-los em "manuais de acusação" para apontar defeitos nas pessoas e de uma hora para outra mudar a sua função para escudo para vetar quaisquer acusação pecaminosa contra os mesmos. "Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço." Está tudo meio que rolando em cima desta frase, assim como os evangélicos que não suportam os católicos porém se utilizam de um livro sagrado que a séculos é dominado pela mesma Igreja Católica. Até aí os judeus são muito mais originais com a Torá deles ou ainda os muçulmanos com o já famoso Alcorão.

"A Palavra de Deus não se discute" dizia o reclamão sovina do banco de trás. Primeiro: qual é a verdadeira palavra de Deus? Bíblia? Torá? Alcorão? Ninguém sabe de porcaria nenhuma e fica falando besteira. Segundo: não se discute por que motivos, ora bolas? Quer dizer que eu tenho simplesmente que ler uma coisa que passou de mão em mão a centenas de séculos e acreditar em tudo que diz ali sem pestanejar? Provavelmente ele nunca ouviu falar de telefone sem fio. Não estou defendendo tese nenhuma e não estou afim de causar polêmica para atrair visitas, mas não acho normal seres humanos que não tem contato nenhum com o divino ficarem levando tão a sério um livro que outros humanos pintaram e bordaram em cima. Não estou dizendo que a bíblia é certa ou é errada, muito menos tirando a veracidade ou a santidade da mesma, mas é muito cômodo eu me sentar em uma cadeira e acreditar que tudo aquilo ali é verídico do que começar a questionar se algum religioso maluco escreveu alguma coisa em cima do original, se algum padre pedófilo apagou alguma coisa que atrapalhava sua vida ou se algum frade em um acesso de loucura resolveu acender uma fogueira com algumas páginas para se aquecer no gélido inverno da antiguidade.

Apropósito, alguém poderia me explicar por que a adolescência de Jesus Cristo não se encontra nos autos? Pelo o que eu saiba ninguém pula da infância para os 30 e tantos anos de uma hora para outra mesmo que essa pessoa seja o Salvador. E depois querem que eu fique quietinho e não acredite que isto foi retirado estretegicamente pela santa (?) Igreja Católica para não queimar o filme de Jesus mostrando a sua adolescência conturbada. Oras, se não temos uma explicação lógica o suficiente eu só posso acreditar que JC era um adolescente rebelde e revoltado que utilizava-se dos seus poderes para fazer "travessuras". Pensem comigo: eu sou uma criança e de uma hora para outra descubro que meu pai não transou com minha mãe, já que ela é virgem, e que eu não sou filho do meu pai, apesar de meu pai não ser corno, sou filho de outra pessoa e se não me bastasse tudo isso descubro que em determinado momento da minha vida além de ter que ficar andando com aquela roupinha branca seguido por um bando de machos eu vou ter que morrer fincado em uma cruz porque um bando de humanos idiotas - que eu nem conheço - além de estarem pecando em excesso vão libertar um ladrão e milênios mais tarde ficarão discutindo a minha existência, cor de pele e opção sexual.

Sinceramente? Eu iria me revoltar muito! Você não?

Kinho Dickinson