"It's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
Oh, take me back to the start."
Nunca fui de falar que determinado ano foi bom ou ruim. No máximo aquela coisa de "Nossa, como o ano passou rápido, néam?" ou então "Ai, esse ano não acaba, huh?", porém é inevitável dizer que o ano de 2003, mesmo passando rápido, fedeu. Não que eu goste dessa expressão - eu não gosto - mas falar deste ano é praticamente como falar de um mês. Como diria o Nelson Moss: "November is all I know." Não que esteja falando de um mês específico, mas sim de um somatório de dias realmente legais espalhados por aí que, talvez, resultem em trinta dias. Até tentei não ser cético e dei a cara a tapa. Apanhei. E apanhei feio. Foi um ano de perdas. Muito mais perdas do que descobertas ou aprendizagem. Ou não, já que eu aprendi coisas que eu já sabia e por idiotice eu fiz o favor de esquecer. Arrisquei demonstrar coisas, por mais que eu tivesse a absoluta certeza de que isso não é uma boa coisa. Eu devia ter continuado a não demonstrar nada do que se passa na minha cabeça. Aliás, devia ter continuado a dar atenção a minha cabeça e só a ela, o resto não existe. Não estou dizendo que isso é uma coisa boa. Não estou dizendo que se fechar em um mundinho e sabotar tudo aquilo que tu achas que esteja tomando grandes proporções em tua vida seja bom. Não estou dizendo que afastar de você aquilo que poderá sair das tuas mãos naturalmente, é bom. Não estou dizendo nada, estou só remexendo os entulhos e levantando a poeira que, pasme, não baixou. O ano tinha tudo para ser ótimo, sabe?
Tudo começou aparente bem. Janeiro. Doce Janeiro. E todo mundo está cansado disso. Não me conformava com algumas coisas e mesmo assim não corria atrás para realizar nada. Bom, resolvi me mexer e o resto você já sabe. Sabe também que eu cortei o cabelo depois de anos. Sem contar com o Nelson que, por mais que esteja falhando em sua interpretação de humano perfeito, me entende, nunca reclama de nada, não me repreende, nunca acha que eu sou pegajoso ou reclama de frieza, não se importa que eu seja um ser fechado no meu mundinho, não faz perguntas, não espera nada em troca e sempre vai estar aqui. Além de ser lindo e branquelo, huh? Mas o tempo não para e, por mais que eu tenha virado novidade, fevereiro foi um recomeço. Uma reconstrução de coisas que você nunca teve, volta as suas atividades e vida real. Sorte que tivemos muitos feriados e março está aí para não me deixar mentir, pois por causa deles coisas novas começaram a acontecer. O carnaval apareceu com força total e eu também me entreguei ao mundo das imagens. Fotinhas e mais fotinhas. Até naquele histórico show do O Rappa eu fui. E quem não se lembra da versão hawaii?Abril. Páscoa, né? Sinceramente foi um mês pobre e eu não me recordo de nada além daquela coisa cheia de feriados e sem nenhum big deal. Maio? A mesma coisa. Até que a vidinha "blogueira", assim como no mês anterior, foi movimentada. Os posts longos tão comentados deram maior vazão e, puxa, seres humanos invadiram a sfera e até postaram. Andrômeda se foi e um novo computador chegou. Falando nisso, quem também chegou foi junho e eu não tinha vontade de nada. Muito menos de fazer aniversário. Mas teve aquele sítio. Na verdade eu não lembro o mês exato, mas foi bom. Mesmo mesmo. Julho? Férias. Diria que foi um dos meses inesquecíveis e mais didáticos desse ano. Aprendi muitas coisas. Coisas essas que vão desde liberação de corpos em um dos hospitais precários da cidade do Rio de Janeiro, passando pelos telefonemas dos chamados “papa-defuntos” que ligam no seu celular oferecendo caixão e tudo. Até mesmo enfrentar os tramites legais para a confecção de uma certidão de óbito, que só aceitam fazer depois que você consegue provar que é maior de dezoito anos, eu fiz. No meio disso tudo, felizmente, eu conheci uma pessoa bem legal que, além de desviar a minha atenção de determinadas coisas, também não permitiu que todo o entulho do teto, que estava caindo na minha cabeça, me atingisse. Not at all. Planos foram feitos mas, veja, eu não poderia deixar o entulho do teto caindo e simplesmente partir. Falando em planos, agosto não teve nenhum. Teve guerra, advogados, reuniões e todo o clima que ninguém gosta. Os planos foram deixados para setembro, mas você sabe que planos furam e talvez por isso o Chris Martin gemeu há quilômetros de distância. Outra que também se manteve distante foi a Alanis. Não só ela. Aparentemente os anjos só aparecem para a Salete - personagem daquela novela que aparentemente quase todos assistiram durante esse ano - porque, sim, pessoas chegam muito perto de ti mas você, por um motivo ou outro, acaba não se aproximando o suficiente. Outubro? Novembro? Vamos resumir em três palavras: quarto, computador e Alice. Ok, nem tanto, mas o tempo passou, pessoas mudam, sentimentos humanos se modificam, aparecem outras pessoas, a vontade de postar é nula e mesmo assim você continua arrastando o blog. Mas enfim, o que você não conseguiu mais arrastar são os famigerados recordes, mas você resolve começar. Ah claro, obras, e elas também continuam durante esse mês, dezembro, que apesar de estar finalizando um ano, só está servindo para remexer meses passados.
Falar que foi um ano de perdas e descobertas, não é necessário. O fato é que realmente existe aquela velha história de que algumas vezes "não importa o quanto você se importe porque algumas pessoas simplesmente não se importam". Também há uma outra história de que mesmo que você saiba que "aquela pessoa que nunca te liga - ou mais te ataca - é a que mais pensa em ti", dói. Sem contar que é verdade que "só vamos perceber que aquele amigo faz falta ou que somos muito importante para alguém, quando já é tarde demais." Falar que apareceram pessoas legais também não é necessário. Mas de que adianta aparecerem pessoas legais se elas vão embora? E esse foi um ano de pessoas. Pessoas que apareceram, pessoas que se foram, pessoas que seguiram comigo. Algumas seguiram, se perdiam pelo caminho e depois retornavam. Pessoas que continuam presentes, mesmo ausentes e, acima de tudo, pessoas que tomaram proporções que eu não pensava que pessoas tomassem. Mas pessoas também são protagonistas de coisas ruins eu não poderia terminar o ano sem reclamar, claro. Aliás, vamos reclamar também do grande problema que pairou sobre este blog.
Sabe aquela velha ladainha de que "não sei em que ponto eu me perdi"? Exatamente. Como todo mundo está careca de ler nas constantes reclamações repetitivas que eu faço, por mais que tivesse aquela coisa besta de ”se você expõe seus posts na net é porque você está querendo exibir pra alguém, pois caso contrário você salvaria no wordpad”, eu estava contentinho em ter um espaço para expor minhas baboseiras sem me preocupar com nada. E no que isso se tornou eu não sei. O ponto vai muito além do simples fatos de não ser “todos os dias que você encaixa as palavrinhas”. Na verdade eu acho que vai muito além. Chapolin Colorado, dentro de sua grande sabedoria, já afirmava para a enfermeira de azul, que é a_cara da Dona Florinda, que se ele dissesse em alto e bom som para o Tripa Seca que o mesmo é saudável, mesmo estando doente, ele de fato se convenceria e se tornaria saudável. Estou longe de ser uma tripa seca, é verdade, mas eu acho que o sistema é o mesmo. De tanto ficarem falando que Kinho é isso, Kinho é aquilo, Kinho reage dessa forma se confrontado desse jeito... tudo isso como se eu fosse algum produto idiota da Smithkline Beecham, que já não ganha dinheiro as custas de meu vício, com uma bula a ser seguida. Resumindo? Parei de viver Kinho Dickinson para interpretar Kinho Dickinson. E eu me perdi, sabe? Porque, veja, eu não sei interpretar o-anjo-misterioso-que-não-fala-de-si-mesmo-e-escreve-bem-dominando-uma-norma-qualquer-e-tem-sacadas-inteligentes-e-utiliza-magnificamente-o-sarcasmo-e-a-ironia-além-de-fazer-layouts-monocromáticos-semelhantes-entre-si-e-ter-um-urso-e-uma-gata-de-nome-estranho-e-tirar-fotos-subjetivas-de-si-mesmo-e-não-falar-a-idade-e-milhões-de-etecéteras. É legal ouvir que "você tem um estilo só seu de filosofar sobre as coisas menos filosofáveis", "transforma o nada cotidiano" em qualquer coisa que nem você sabe o que seja, ou ainda se divertir quando as pessoas comentam que você é a "antítese materializada", mas na maioria das vezes irrita você ter que se comportar assim porque você é canceriano, mas se você se comporta assado é provavelmente porque você sofreu influência de algo. Irrita as pessoas que acham que você está doente quando conversa mais abertamente ou ouvem sua voz como se você fosse o E.T e só soubesse falar "cAaaAaaasaAaa". É ridículo ter que dizer isso, mas ao invés de ser inatingível, popular e amado - tem coisas que só rindo, mesmo - eu sou apenas eu e isso significa que eu não tenho que fazer nada do que eu não queira e algumas pessoas demoram um pouco para perceberem isso e quando olham a sua volta estão como marionetes na mão dos outros ou ainda - as que se revoltam - viram uma versão extremada de si próprio. Acho que esse foi o meu problema. Ou não, já que é basicamente a mesma colocação de rótulos, como fazem com qualquer tipo de literatura. Apropósito, se tem uma coisa que me deixa irritado é o fato dessa taxação de "gay literature".
"Uma vez que ninguém é criado para ser homossexual, no momento em que reconhece a diferença, tem de explicá-la". E, desculpe, mas algumas coisas não tem que ser explicadas só porque foge do senso comum. Aliás, senso comum fede. Você pode achar que eu comecei a gostar dessa expressão, huh? Continuo não gostando, mas no caso de basear um texto na sexualidade - e diversos outros aspectos - dos seus autores ou das suas personagens e colocarem numa prateleira simplesmente para catalogar que, no caso, esse tipo de escrita apresenta uma tem temática homossexual, fede. Eu poderia até entrar em outros aspectos como, por exemplo, o fato de os heterossexuais aprenderem sobre os seus costumes sexuais em centenas de lugares diferentes enquanto os homossexuais estão - em sua esmagadora maioria - privados de qualquer orientação e crescem tendo todo um aprendizado de adolescência sozinhos, mas eu não estou aqui pra isso. Tão pouco estou dizendo que meus textos são literatura, muito pelo contrário, mas acho que isso realmente não precisa ser dito, huh? Estamos falando de rótulos, acho eu, e é notório que, coitado do Edward Albee, por exemplo, que se revira no túmulo vendo "Who´s Afraid Of Virginia Woolf?", que não tem nada de homossexual, nas estantes gays porque um idiota qualquer resolveu catalogar a pessoa e não o livro. Uma obra vai tão além da orientação sexual do seu escritor, sabe? Por que não assumir que todos esses são livros de um escritor que, por um acaso, é homossexual? Taxar uma obra pelo autor é o mesmo que tentar analisar se William Faulkner "era do babado" só porque escreveu a respeito ou rotular Lewis Carroll como pedófilo só porque ele gostava de passear de barco e mandar cartas carinhosas para diversas menininhas. Como se ele fosse o único que tivesse essa tendência de idealizar a beleza pura e virginal das meninas em toda a Inglaterra vitoriana, claro. E definitivamente não podemos nos esquecer das várias tentativas de achar um defeito ou um podre no pobre do Shakespeare porque, não, aparentemente um escritor brilhante não pode ser "normal". Se uma obra de ficção não tem que ter necessariamente contato com a realidade e se a análise da personalidade, desejos e gostos do autor é fundamental para o entendimento de uma obra, vocês vão ter que concordar que nunca ninguém vai conseguir ler um texto anônimo, certo? Por isso eu não me venham com taxações. Menos ainda com comentários ao meu respeito porque, veja, estão sempre tentando achar sentido em algo, mas já parou para pensar que as vezes você pode querer achar um sentido em algo que não tem sentido algum? Ninguém tem que ser entendido e eu não posso fazer absolutamente nada se as pessoas acreditam na imagem que elas criaram para entenderem ou explicarem o comportamento de alguém e não passam simplesmente a tratá-la como um alguém. Nunca disse que era alguém legal, alguém fácil de se conviver. Não, eu não sou aberto e receptivo e, sim, a primeira vista eu sou bem fechado e vivo em um mundinho próprio, mas por que você simplesmente não pode ser você? Por que você simplesmente não pode fazer as coisas do jeito que você acha legal sem ninguém ficar apontando para você ou colocando parâmetros e modelos? Não faço parte desse "american way (blog?) of life", sabe? Todo mundo tem sua casinha, sua caminhonete e seu cachorro labrador e se você não tiver isso você é um perdedor? "I don´t think so, dude!"
Viajei demais? Provável. Onde eu estava? Ah sim, 2003. Nada de ser previsível citando o_filme do ano, as_músicas, o_dia, as_bandas. O ano morreu e, você sabe, a morte fica. Fica na lembrança da pessoa que não volta. No caderno que você não escreve mais. Na fotografia que não será mais vista. No espaço ocupado pelo vazio que se torna tão presente. E, nossa, como isso está cliché. Como diria o Falabella: "em alguma outra vida, devemos ter feito algo de muito grave para sentirmos tanta saudade..." Saudade? Não do ano. Saudade de momentos. Saudade de não se sentir vazio. Saudade das coisas que não aconteceram.
Morra, 2003. De novo. E tenha a decência de não retornar em flashbacks porque, por mais que todos os mortos virem santos em nossa memória, eu tenho mágoas por teres sido um ano que tinha tudo para ser e não foi. E que venha 2004 com todas as desilusões adquiridas e total falta de perspectiva com o futuro.
Amém.
(...)
Esse foi o último post do ano e quem sabe o penúltimo do blog. Não sei se continuarei aqui ano que vem. Não quero continuar rodando em círculos, não quero mais empurrar com a barriga e menos ainda ficar em um lugar que pode continuar arrastando sombras ou qualquer tipo de interpretação estapafúrdia. Sem contar, é claro, com a colaboração do kitnet, que vai deletar todos os meus arquivos no trigésimo primeiro dia de janeiro. Doce Janeiro II. Hiatus. Ou não. Sei que esse tipo de história não tem credibilidade há séculos, mas qualquer coisa eu aviso. Permacecendo ou não.
